O aumento na ocorrência de obesidade tem sido relacionado às mudanças no consumo alimentar, com aumento do consumo energético e redução dos níveis de atividade física. Além disso, a obesidade é uma doença de caráter multifatorial, envolvendo uma gama de fatores, incluindo os genéticos, psicossociais, nutricionais, metabólicos e endócrinos. A obesidade se consolidou como agravo nutricional e está associada a uma alta incidência de doenças cardiovasculares, câncer e diabetes.
O resveratrol (3,5,4’ trihidroxiestilbeno) é um polifenol que foi identificado pela primeira vez em 1940, em um artigo japonês realizado a partir da raiz de uma planta medicinal venenosa, e posteriormente em 1963, a partir das raízes de Polygonum cuspidatum, uma planta utilizada na medicina tradicional chinesa e japonesa.
O resveratrol é uma substância que tem sido amplamente estudada nos últimos anos. Estudos demonstraram que o resveratrol possui propriedades de promoção da saúde e características antioxidantes, anti-inflamatórias, cardioprotetoras, antidiabetes, anticâncer, quimiopreventivas e neuroprotetoras. Suas maiores concentrações podem ser encontradas nas uvas, frutas vermelhas, vinho tinto e amendoim. Estudo de revisão demonstrou que, em pesquisas in vitro, o resveratrol exerce ação antiobesidade reduzindo a adipogênese e aumentando a apoptose. Em ratos, estudo demonstrou que o resveratrol combinado com quercetina (flavonoide natural) pode ter efeitos benéficos na redução da obesidade. Além disso, outro estudo demonstrou que o resveratrol possui efeito antiobesidade nesses animais. Em humanos, estudo realizado com 48 indivíduos portadores de diabetes tipo 2 demonstrou que a suplementação de resveratrol foi capaz de exercer perda significativa de peso e índice de massa corporal (IMC) em comparação ao grupo que ingeriu placebo.
Visto o potencial do resveratrol em algumas doenças e seu potencial efeito antiobesidade, em parceria com pesquisadores da UFPel, escrevemos um artigo de revisão sistemática e meta-análise cujo objetivo foi avaliar se a suplementação com resveratrol exerce um efeito antiobesidade. Este artigo encontra-se publicado na revista Clinical Nutrition ESPEN, a qual pertence à Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo.
Fizemos uma revisão sistemática com meta-análise nas bases de dados Pubmed, LILACS, Scielo, Scopus e Web of Science. Foram incluídos estudos experimentais que investigaram os efeitos entre a suplementação de resveratol para tratamento na perda de peso e sua relação com excesso de peso e obesidade. Estudos observacionais e estudos que não foram com humanos foram excluídos da revisão. A escala Cochrane foi utilizada para avaliar a qualidade dos estudos.
Dezenove estudos foram incluídos, dos quais apenas três demonstraram algum tipo de efeito positivo. Na meta-análise, não houve nenhum efeito significativo na perda de peso e índice de massa corporal. Apesar disso, observamos uma redução significativa na circunferência da cintura. Estudos futuros são necessários para confirmar os potenciais efeitos do resveratrol no tratamento da obesidade. Nosso artigo se diferencia dos outros, pois na nossa meta-análise incluímos apenas estudos que avaliaram somente a suplementação de resveratrol comparada ao placebo. Outros estudos que encontraram resultados positivos do resveratrol na perda de peso incluíram estudos que combinaram o resveratrol com outras substâncias, o que pode ser um viés e ter influenciado nos resultados. Nosso estudo demonstrou que até o momento, não é possível afirmar que a suplementação com resveratrol exerce um efeito antiobesidade.
Link para acessar nosso artigo: https://doi.org/10.1016/j.clnesp.2020.11.025
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