Consumo de chocolate e relação com doenças crônicas

Consumo de chocolate e relação com doenças crônicas

O chocolate é um alimento amado por grande parte da população. Seu ingrediente principal é o cacau, o qual é rico em vários componentes bioativos como flavonóis, incluindo catequinas, epicatequinas e proantocianidinas (como a teobromina). Os flavonóis que compõe o cacau são capazes de exercer efeitos benéficos na função endotelial, agregação plaquetária, sensibilidade à insulina, dano oxidativo e inflamação, os quais podem desempenhar um papel fundamental na patogênese de diferentes doenças crônicas, como as cardiovasculares, diabetes e câncer.

Embora o chocolate possa exercer um efeito protetor interessante na prevenção ou controle de diferentes doenças crônicas, sua recomendação ainda é controversa. Apesar disso, alguns estudos de revisão mais antigos mostraram que o consumo de chocolate foi associado com redução no risco de doença coronária, diabetes tipo 2, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral. Pensando nisso, um recente estudo de revisão e meta-análise avaliou os efeitos do consumo de chocolate no risco de mortalidade por todas as causas, doenças cardiovasculares, hipertensão, câncer colorretal e diabetes tipo 2.

Os autores encontraram 27 estudos sobre o tema. Para mortalidade por todas as causas, não foi encontrado relação com o consumo de chocolate. Para acidente vascular cerebral, foi encontrado uma associação inversa com o consumo de chocolate. Ou seja, o consumo de chocolate exerceu um efeito protetor na ocorrência de acidente vascular cerebral. Um aumento no consumo de chocolates foi também inversamente associado com o risco de doenças cardiovasculares. Os autores fizeram análises estratificadas por localidade (Europa x Estados Unidos), em que foi observado um efeito protetor apenas nos estudos Europeus.

A partir de dados de mais de 21 mil casos de diabetes tipo 2, foi observado uma associação inversa entre o risco da doença com o consumo de chocolate. Para o câncer colorretal e hipertensão, não foram observadas nenhum tipo de associação. Ou seja, o chocolate não protegeu contra essas doenças, mas também não foi fator de risco.

Os autores concluem que o consumo de chocolate não está relacionado ao risco de diversas doenças crônicas, pelo contrário, podem até mesmo reduzir o risco de algumas. Porém, os achados são limitados pela baixa confiança dos estudos incluídos. Além disso, é ressaltado que qualquer discussão sobre a inclusão de pequenas quantidades de chocolate em diretrizes alimentares deve ser levada em conta a incerteza dos resultados.

Mais além, alguns pontos merecem destaque. Primeiro, não foram levados em consideração alguns pontos importantes, como avaliação da dieta, prática de atividade física e histórico genéticos dos indivíduos. O consumo de chocolate foi protetor por causa do cacau, ou seja, quanto maior a quantidade de cacau que um chocolate possuí, melhor será para a saúde. Na realidade, o ideal seria consumir cacau em pó, ao invés do chocolate, uma vez que o chocolate passa pelo processo de industrialização no qual são adicionados diferentes componentes, como gordura, açúcar e conservantes. O chocolate branco, amado por muitos, não trará nenhum benefício à saúde, possivelmente será prejudicial. Isto ocorre porque o cacau não faz parte de seus ingredientes, apenas a manteiga de cacau, a qual é rica em gorduras.

Em geral, o consumo de chocolate preto – especialmente os com maior conteúdo de cacau – pode fazer parte de uma dieta saudável e possivelmente será benéfico à saúde. É claro, que as quantidades de consumo devem ser moderadas, além de ser acompanhadas por outros hábitos saudáveis, como consumo adequado de água, consumo regular de frutas e vegetais, não consumo de alimentos ultraprocessados e prática de atividade física. Por fim, na hora da escolha, quanto maior o conteúdo de cacau, melhor para a saúde.

Referências: Morze, J., Schwedhelm, C., Bencic, A. et al. Chocolate and risk of chronic disease: a systematic review and dose-response meta-analysis. Eur J Nutr 59, 389–397 (2020). https://doi.org/10.1007/s00394-019-01914-9

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