Em estudo de revisão, os pesquisadores revisaram a epidemiologia da obesidade e a evolução de adoçantes artificiais para examinar as últimas evidencias sobre os efeitos dos adoçantes artificiais no hospedeiro microbioma, eixo intestino-cérebro, homeostase de glucose e consumo de energia, com intuito de discutir como todas essas mudanças vêm contribuindo para a obesidade.
A obesidade é o maior problema de saúde pública, afeta crianças e adultos, sem distinções de raça. Estudos sugerem que a obesidade é complexa, sendo resultado de fatores internos e externos. Diversos fatores contribuem para a obesidade, como densidade calórica, porções grandes de comida, inatividade física e alterações no microbioma intestinal.
As dietas ricas em açúcar são comuns por muitas pessoas, pois animais e humanos têm preferências por sabores doces, que começam na fase inicial da vida. O uso de adoçantes artificiais, também conhecido como adoçante não calórico ou não nutritivo, cresceu em popularidade com intuito de combater o aumento da epidemia de obesidade, e particularmente por causa das consequências causadas pela obesidade (como síndrome metabólica e resistência à insulina). A prevalência do uso de adoçantes artificiais de 1999 a 2008 passou de 6.1 a 12.5% entre crianças e 18.7 a 24.1% entre adultos. Em contrapartida ao aumento do uso de adoçantes artificiais, não foram notadas reduções no consumo de bebidas ou comidas açucaradas no mesmo período.
Os efeitos do adoçante artificial no microbioma de roedores:
O microbioma é uma população heterogenia de bactérias que ficam distribuídas no trato gastrointestinal, ocupando uma área de 300 a 400 m2. Em ratos, estudo realizado por Palmnas e colaboradores analisou os efeitos do consumo de aspartame no microbioma e composição de gordura corporal. Após oito semanas, o grupo do aspartame consumiu menos calorias e ganhou menos peso, porém demonstraram maior hiperglicemia em jejum e aumento significativo na resistência à insulina. Em outro estudo, feito por Suez e colaboradores, foi demonstrado que em ratos magros e obesos o consumo de adoçantes artificiais (sacarina, sucralose e aspartame) comparado à água, glicose ou sacarose (açúcar) aumentou a intolerância à glicose.
Os efeitos do adoçante artificial no microbioma de humanos:
Estudo com sete pessoas saudáveis avaliou os efeitos do adoçante artificial na glicose sanguínea, após cinco a sete dias de exposição aos adoçantes, quatro dos sete indivíduos demonstraram pior intolerância à glicose.
Estudos em animais sugerem que o adoçante artificial interfere no eixo intestino-cérebro, aumentando hormônios relacionados à fome e à saciedade, porém esses resultados são mais difíceis de ilustrar em humanos.
Os efeitos do adoçante artificial no consumo de energia:
Apesar do objetivo de diminuir o consumo de calorias por quem utiliza adoçantes artificiais, os mesmos podem aumentar o consumo de calorias. Com o aumento de bebidas e comidas adoçadas artificialmente, a palatabilidade promove aumento no consumo de energia em animais e humanos.
Estudo em roedores demonstram que quando adoçantes artificiais são incorporados à alimentação desses animais, eles consomem mais calorias e ganham mais peso comparado ao grupo que consome alimentos com açúcar. Outro estudo com achados semelhantes, demonstrou que roedores que consomem comidas ou bebidas contendo adoçantes acabam consumindo mais energia, ganhando peso e aumentando a adiposidade comparado com roedores que consomem alimentos normais.
Em humanos, os estudos demonstram uma associação menos clara, demonstrando que os indivíduos que consomem alimentos ou bebidas com adoçantes acabam consumindo o mesmo número de calorias que indivíduos que não consomem, pois acabam compensando comendo mais alimentos.
Efeitos na obesidade em estudos com roedores:
Pesquisadores demonstraram que o consumo de sacaria ou aspartame foi associado a ganho de peso e adiposidade sem ser relacionado à ingestão de calorias.
Efeitos na obesidade em estudos com humanos:
Estudos numerosos de coorte mostram uma associação positiva entre adoçantes artificiais e aumento no IMC, em efeito dose-dependente (quanto maior o consumo de adoçantes maior o IMC). Além disso, pesquisadores demonstraram que em gestantes que consomem adoçantes comparadas a gestantes que consomem açúcar normal, seus filhos tiveram risco maior de sobrepeso ao primeiro ano de vida.
Os adoçantes artificiais foram criados como um substituto para o açúcar, com intuito de diminuição de peso e resistência à insulina, porém, seu consumo está associado ao aumento de peso, resistência à insulina e adiposidade.
Fonte: Pearlman, M., Obert, J. & Casey, L. Curr Gastroenterol Rep (2017) 19: 64. https://doi.org/10.1007/s11894-017-0602-9