Será que a qualidade do sono tem relação com a obesidade? Alguns estudos indicam que quanto pior a qualidade do sono maiores são os riscos de sobrepeso/obesidade. É fato que na hora de pensar em emagrecer muitos indivíduos e nutricionistas deixam de lado a questão do sono, porém as evidências sugerem que esse é um fator muito importante na saúde em geral.
A má qualidade do sono, normalmente associada à perda geral de sono, é uma queixa frequente de indivíduos obesos. Evidências crescentes, tanto epidemiológicas quanto laboratoriais apontam a curta duração de sono como um fator de risco para obesidade e suas complicações.
Estudos epidemiológicos, aproximadamente 50 evidências, examinaram a associação entre sono e obesidade tanto em adultos quanto crianças. A grande maioria encontrou associação significativa entre curta duração de sono (menos de seis horas por dia) e aumento do risco de obesidade. Além disso, em meta-análise com 18 estudos e 604.509 adultos houve razão de chances de obesidade de 1,55 para quem dormia menos de 5 horas por dia e um efeito de dose-resposta em relação à duração do sono, de maneira que para cada hora adicional de sono o IMC diminuía em 0,35 kg/m2.
Outros estudos demonstraram aumento de 6% na probabilidade de obesidade em mais de cinquenta mil adultos no EUA para uma duração de sono autorreferida menor que sete horas por noite. Em uma coorte com 5549 mulheres adultas nos EUA, a curta duração de sono teve relação direta com a obesidade extrema. Além disso, estudo que mediu a duração de sono por meio de polissonografia demonstrou correlação inversa entre o tempo de sono e a circunferência da cintura, sendo as associações mais fortes em mulheres com menos de 50 anos. Outro estudo prospectivo, que acompanhou 35.247 trabalhadores japoneses durante um ano, relatou que a curta duração de sono (menos de seis horas por dia) foi associada a um risco aumentado de obesidade em homens.
Estudos laboratoriais demonstraram que a grelina (hormônio responsável pela fome) aumenta com a restrição de sono, de modo que a leptina (hormônico da saciedade) diminui. Ou seja, quanto menos tempo de sono maiores os níveis de grelina e menores os de leptina. Seis estudos laboratoriais sobre a privação de sono demonstraram diminuição nos níveis de leptina. Em 10 adultos com excesso de peso, os pesquisadores observaram um aumento nos níveis de grelina e fome, mas sem alterações nos níveis de leptina, após duas semanas de restrição do sono em comparação com o mesmo período de extensão do sono. Estudos transversais também relataram níveis de leptina mais altos, os quais foram inversamente associados ao tempo de sono, para cada hora de sono diminuído, houve aumento de 6% nos níveis de leptina. Estudo com 1024 voluntários descobriu que cinco horas de sono por dia, avaliadas por polissonografia, estavam associadas a uma diminuição de 15% nos níveis de leptina matinal e um aumento semelhante nos níveis matinais de grelina.
Como conclusão os autores relatam que vários estudos epidemiológicos associaram a duração do sono curto e a qualidade do sono ao risco de obesidade. Porém, deixam claro que faltam estudos de intervenção nas condições de vida real, visando aumentar a duração do sono e melhorar a qualidade do sono, com intuito de evitar ganho de peso ou facilitar a perda.
Essa revisão é um excelente artigo, no qual é possível ver o quanto a qualidade do sono pode ser importante para controle e prevenção da obesidade. É claro que a obesidade é multifatorial, como mencionado no começo, porém o sono é um dos principais fatores que influenciam nessa condição. Outros fatores importantes são: alimentação inadequada, inatividade física, consumo excessivo de álcool, além de fatores genéticos e ambientais.
Referências: Beccuti, G., & Pannain, S. (2011). Sleep and obesity. Current opinion in clinical nutrition and metabolic care, 14(4), 402–412. https://doi.org/10.1097/MCO.0b013e3283479109