A diabetes é uma doença que atinge aproximadamente 10% da população brasileira. Estudos estimam que até 2045 haverá um aumento expressivo nos novos casos de diabetes, levando a mais de 700 milhões de novos diagnósticos da doença. Esse aumento nos casos está diretamente relacionado a um maior consumo de alimentos ultraprocessados, baixo consumo de frutas e vegetais, inatividade física e comportamento sedentário. Também é possível que haja um fator genético por trás disso, porém, este é facilmente controlado com adoção de hábitos saudáveis.
Os custos para tratar a diabetes são elevados. Até 2030, estima-se que haverá gastos que giram em torno de 2,3 trilhões de dólares para tratamento da doença. Apesar da diabetes ser uma doença relativamente baixa em termos de gravidas, ela é porta de entrada para diversas outras doenças mais graves, como problemas renais e doenças cardiovasculares, podendo levar à morte.
Nesse sentido, o resveratrol, polifenol encontrado principalmente na uva e vinho, pode surgir como um antioxidante com potencial para tratar ou prevenir a diabetes. Inicialmente, o resveratrol foi identificado em 1940 a partir de uma planta chamada Polygonum cuspidatum, muito utilizada na medicinada tradicional da China e Japão. Estudos demonstraram que o resveratrol tem propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, cardioprotetoras, antidiabetes, anticâncer, dentre outras. Alguns estudos prévios de meta-análise tentaram demonstrar os efeitos do resveratrol na diabetes a partir da literatura disponível. Porém, essas revisões incluíram apenas indivíduos já com a doença e não aqueles que estão em risco de desenvolve-la. Por esse motivo, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas, fizemos uma revisão sistemática e meta-análise sobre os efeitos do resveratrol no tratamento ou prevenção da diabetes, a qual foi publicada em uma das revistas com maior fator de impacto na área da nutrição, a Critical Review in Food Science and Nutrition.
A busca foi conduzida nas principais bases de dados, com intuito de encontrar todos estudos sobre o tema. Inicialmente, encontramos 917 artigos, dos quais 30 foram incluídos na revisão por estarem de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. A maioria dos estudos foi publicado entre 2016 e 2020, sugerindo que este é um tema recente e com potencial para ser mais explorado. De 30 estudos, 18 encontraram benefícios em pelo menos algum parâmetro da diabetes, como glicemia de jejum, resistência à insulina (medida pelo HOMA-IR) e hemoglobina glicada. Doze estudos foram conduzidos com sujeitos diabéticos, sendo que oito mostraram benefícios no tratamento da doença, quando comparado a um placebo.
A nossa análise agrupada (meta-análise) envolveu mais de 1000 indivíduos entre os grupos. Para glicemia de jejum, a suplementação com resveratrol não exerceu efeito significativo, quando comparada ao placebo. No entanto, o resveratrol foi capaz de reduzir significativamente a resistência à insulina, principalmente nos estudos com duração de até oito semanas. O mesmo ocorreu para a hemoglobina glicada, em que a suplementação de resveratrol foi efetiva nesse importante marcador da diabetes. Quando analisamos apenas sujeitos diabéticos, o resveratrol foi capaz de reduzir a glicemia de jejum e a resistência à insulina. Os resultados do nosso estudo são importantes e com isso esperamos dar subsídios para que novas pesquisas sejam conduzidas.
Em geral, a suplementação com resveratrol foi bem tolerada, segundo a maioria dos estudos, e seu uso pode ser considerado seguro. No entanto, recomenda-se que a suplementação com resveratrol, ou qualquer outro suplemento, seja feita sob acompanhamento de um profissional capacitado, para melhores resultados. O consumo de uvas roxas pode ser uma boa alternativa para quem não quer suplementar resveratrol, além dos outros benefícios que a fruta pode trazer ao organismo.
Link para acessar nosso artigo: https://doi.org/10.1080/10408398.2021.1875980
Referências: Delpino FM, Figueiredo LM. Resveratrol supplementation and type 2 diabetes: a systematic review and meta-analysis. Crit Rev Food Sci Nutr. 2021 Jan 22:1-16. doi: 10.1080/10408398.2021.1875980. Epub ahead of print. PMID: 33480264.