Muitas pessoas excluem o glúten de suas dietas, mesmo sem diagnóstico médico, pois acham que vão emagrecer mais e ficarem menos inchadas. Está na moda falar que o glúten faz mal (faz apenas para quem tem doença celíaca), bem como adotar dietas da moda, onde o glúten não faz parte, pois pessoas sem conhecimento científico falam asneiras a respeito do glúten.
Antigamente, apenas pessoas com doenças celíacas faziam dietas livre de glútens. No entanto, hoje em dia a mídia apresenta de forma errada os alimentos sem glúten como sendo mais saudáveis, e as pessoas, baseadas na mídia, estão excluindo o glúten de suas dietas achando que estão fazendo bem à sua saúde.
O glúten é uma proteína de armazenamento de sementes de alto peso molecular, comumente encontrada em grãos relacionados à grama, como trigo, cevada e centeio. O glúten é uma proteína composta de glutenina e prolaminas e também é responsável pela capacidade do trigo de formar massa. Sendo assim, o glúten é um componente integral de uma variedade incrível de alimentos que contêm trigo, incluindo pães, cereais e massas.
A doença celíaca afeta aproximadamente 1% da população e é uma enteropatia imunomediada mais comumente associada ao sorotipo humano HLA DQ2 ou DQ8. Quando as pessoas com doença com doença celíaca ingerem glúten, é desencadeado um processo inflamatório direcionado à mucosa intestinal, resultando em enteropatia imunomediada com sintomas que podem classicamente incluir má absorção, diarreia, esteatorréia, perda de peso ou falha no crescimento. A sensibilidade ao glúten não celíaca ocorre nas pessoas em que a ingestão de glúten leva a manifestações sintomáticas na ausência de doença celíaca ou alergia ao trigo, mas que relatam uma remissão de certos sintomas após a remoção do glúten de sua dieta.
Em estudo duplo-cego ao glúten, com indivíduos com doença celíaca ou com sensibilidade ao glúten, foi relatado que apenas um terço dos pacientes ainda apresentava sintomas após a ingestão de glúten, sugerindo que outras proteínas contidas no trigo, como lectinas, aglutinina ou inibidores de tripsina amilase, podem ser responsáveis por desencadear uma resposta imune inata e levar a sintomas após a ingestão de trigo.
Não há necessidade de excluir o glúten de sua dieta, exceto se tiver doença celíaca ou sensibilidade ao glúten. Uma dieta sem glúten aumenta consideravelmente os custos dos alimentos para os adeptos, com preços que chegam a 3 vezes mais que os produtos similares sem glúten. Além disso, uma dieta sem glúten pode levar a deficiências nutricionais de macronutrientes e micronutrientes. Quando comparamos os alimentos sem glúten em relação aos alimentos à base de trigo equivalentes, encontramos deficiências em minerais, incluindo cálcio, ferro, magnésio e zinco, além de deficiências em vitaminas, incluindo vitamina B12, folato e vitamina D. Em estudo realizado em 2013 de pacientes celíacos que aderiram a uma dieta sem glúten (no caso deles eram obrigados pois tinham a doença…) foi encontrada deficiências nutricionais de cada um desses nutrientes citados anteriormente.
A literatura demonstra que muitos indivíduos que afirmam sofrer de sensibilidade ao glúten podem de fato não ter sensibilidade real ao glúten, embora seja possível que sejam sensíveis a outros componentes do trigo. A escolha de adotar uma dieta sem glúten normalmente é feita por indivíduos sem contribuição médica, acreditando que estão adotando uma dieta mais saudável. Infelizmente, a escolha de uma dieta sem glúten, independentemente de sua indicação médica, geralmente acarreta aumento nos custos com os alimentos, redução no consumo de fibras, diminuição no potencial de consumo de minerais e vitaminas, incluindo cálcio, magnésio, zinco, vitamina B12, folato e vitamina D e potencialmente maior exposição a ácidos graxos saturados e hidrogenados e arsênico.
Fonte: Diez-Sampedro A, Olenick M, Maltseva T, Flowers M. A Gluten-Free Diet, Not an Appropriate Choice without a Medical Diagnosis. J Nutr Metab. 2019;2019:2438934. Published 2019 Jul 1. doi:10.1155/2019/2438934